terça-feira, 31 de maio de 2016

Cadê o direito?



A poucos dias só se fala da notícia do "estupro" coletivo de uma adolescente de 16 anos, dos áudios que mostram que ela "queria" e dentre outras tantas fofocas/notícias que são exploradas pela mídia.
Recentemente o jornal publicou uma manchete enorme com a foto de 4 acusados, dentre eles um que havia "apenas" divulgado o vídeo, e louvava a troca de delegado nas investigações.

A internet parece ter sido tomada por uma onda de pessoas que falam da necessidade de se falar da "cultura do estupro", como se essa cultura não fosse formada pelas próprias mulheres que valorizam os bailes funks, e a objetificação da mulher.

Eu me pergunto, se eu falar que o del. Alexandre Thiers estava certo ao dizer que "SÓ o exame de corpo delito não caracteriza se houve ou não estupro".
Ser diligente e lembrar que existe a "presunção de inocência" em nosso direito não significa dizer que ele arquivou as investigações com a conclusão de que não havia estupro. Mas o trabalho diligente apenas o levou a ser afastado, afinal cautela não faz manchete!

Olho com estranheza o poder mediúnico da Mídia de conseguir condenar antes do fato noticiado ser devidamente investigado!
Estranho ainda a manifestação de convencimento da delegada substituta em tão pouco tempo sem nem ao menos diligenciar a respeito!
 

A manifestação no tanque e a voz de diversas pessoas da comunidade dizendo que "orgia não é estupro" simplesmente são caladas pelo grito do mais forte!
 

A realidade da favela e dos bailes funks são simplesmente ignoradas! Pergunto sobre o caso as pessoas que comigo andam amassadas nos BRTs, nos ônibus e trens de cada dia e noto que os mais próximos com a realidade estampada falam contra o desejo de condenação que vem sendo aclamado a qualquer custo pela sociedade.
 

Como advogada, entristece-me ver que neste caso não há defesa capaz de afastar a marca e o veredito já dado pela mídia, e mais do que isso: choco-me com colegas de profissão que agem da mesma forma, esquecendo-se dos ditames da profissão!
 

As bandeiras já foram levantadas e esses 30 já estão condenados independentemente do processo, e ao final a realidade dos "paredões do funk" continuará envolta pela névoa da indiferença social!

É crime divulgar o vídeo íntimo: sim!
Então os julguem por isso!
É crime ter relações com menor de 18: sim!
Então os julguem por isso!
Mas não lancem o estigma de estuprador antes de terem certeza!

Joguem as pedras que quiserem, mas continuo acreditando que a condenação sumária midiática não é a saída que devemos procurar!

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